O Surf e a paz de espírito/Surfing and the peace of the Spirit…

"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” Romanos 5:1

O surf na minha opinião, sempre foi uma actividade que, devido as suas características especificas e interacção com a natureza, se torna primeiramente um estilo de vida , e só depois um desporto propriamente dito.
Um surfista que vive este estilo de vida tem uma cumplicidade especial com factores como o vento e a ondulação, aquela ansiedade miudinha sempre que o mar está bom, e sempre mil e umas histórias da última surfada, da última manobra. O surf leva-nos a sítios inóspitos e selvagens, se quisermos realmente alcançar o ponto mais alto do nosso propósito como surfistas: ondas perfeitas sem crowd – O surf faz de nós viajantes pois a “tela para a nossa arte” (o mar….), não está restrita a um espaço, e depende estritamente da conjunção de factores naturais…e isso é bom…
É bom porque quando o mar está bom nós sentimo-nos especiais, porque não existe um dia de surf igual ao outro, porque aparentemente vemos a nossa felicidade como completa…Penso que esta interacção com a natureza sempre nos fez diferentes deste o princípio, e criou uma filosofia de vida de que a felicidade, e a paz de espírito advêm de um dia perfeito de surf…
Já não é a primeira vez que ouço alguém me dizer que o surf é um escape, a melhor coisa do mundo, que quando se faz surf os problemas ficam na areia, a paz é total…
Eu para ser sincero, e depois de quase 15 anos de surf, ainda não experimentei isto – A verdade é que quando tenho problemas eles vão para dentro de água comigo. Nos últimos anos para ser sincero consigo encontrar cada vez menos paz dentro de água.
Existem vários factores que contribuem para isto, como o aumento de crowd que se verificou nos últimos anos. Podia perder vários parágrafos a descrever este e aquele estereótipo de surfista, as voltinhas, dropins etc, mas não é essa a questão que eu quero realçar…A verdade é que aprendi que o surf, apesar de ser a actividade que mais prazer me dá fazer acima de qualquer desporto, nem sempre me trás paz.
Na verdade por vezes saio mais irritado do que entrei - Se entrei para descomprimir, para encontrar paz no surf e só encontrei frustração, porquê que fui surfar?
Mais recentemente para evitar isto procuro, sempre que posso, surfar em sítios com menos crowd, evitar Carcavelos nos domingos à tarde com sol e fazer grandes matinais. Mas sei que sempre vai haver dias em que devido ao stress do trabalho, o transito etc, não encontramos o que procuramos no mar, e só nos irritamos com aquele surfista que está a apanhar ondas demais, com a onda que estamos à espera à 15 min e quando chega estamos mal posicionados ou simplesmente porque as manobras não saem bem.
Durante muito tempo não me apercebi que por vezes o surf contribuía, tal como outras coisas do dia a dia, para ter um dia stressante, porque tinha uma visão filosófica que o surf é o escape de todas as coisas. Não me entendam mal, já tive na vida surfadas que nunca irei esquecer, em que realmente parece que nada mais importa…
Mas hoje sei que se eu deixar, o surf pode contribuir para uma atitude negativa, porque a verdade é que quando andamos frustrados só buscamos uma desculpa naqueles que estão ao nosso lado para justificar a nossa frustração: “As pessoas em Portugal não sabem conduzir, não existe civismo, o pessoal não sabe estar dentro de água”, dou comigo muitas vezes a culpar este surfista ou aquele quando a verdade é já tinha entrado para dentro de água chateado…Muitas vezes, até certa medida a culpa é de terceiros, mas a meu ver quem fica a perder sou eu se me deixar afectar por isso ao ponto de deixar que isso me torne uma pessoas cheia de ressentimento.
A paz foi algo que eu descobri que nem sempre o surf consegue trazer…Mas acredito de todo o coração que existe uma entidade superior que me conhece melhor que ninguém e está interessada em me guardar, fortalecer, e trazer paz…..

“O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz ”Salmos 29:11


“Having been, therefore, justified by faith, we have peace with God, through Jesus Christ” Romans 5:1

Surf in my opinion, always was an activity that, due to its specific characteristics and interaction with the nature, first becomes a lifestyle and only after does it become a sport.
A surfer that lives this lifestyle has a special understanding the wind and wave conditions, childlike anticipation that sea is always good, and a thousand and one stories from the last surf, or the last manoeuvre. Surf takes us to the most inhospitable and wild places, if you really want to reach the highest point of our purpose as surfers: perfect waves without crowd - surf make us travellers on our “canvas of art”- the sea. It is not restricted to a space, and depends firmly upon a combination of natural factors… and this is good. It is good because when the sea is good we feel special. One day of surf is not equal to any other day because on that special day we apparently feel complete. I think that this interaction with nature has always made us different, and created a philosophy of life that happiness and a peaceful spirit comes from one day perfect of surf…
It’s not the first time that I heard somebody tell me that surf is an escape, the best thing in the world, that when we surf our problems are left behind in the sand, and then there is total peace…
To be honest, after almost 15 years of surfing, I still have not yet mastered this - the truth is that when I have problems I bring them into the water. In recent years, I’ve found less peace inside the water.
There are many factors that contribute to this, like the increase of crowd these recent years. I could waste lots of paragraphs describing what I mean, like the stereotypical surfer who drops in on you etc, but this is not the question I want to discuss…The truth that I learned about surf, although it is the activity that gives me more pleasure above of any other sport, doesn’t always bring me peace.
In reality I leave more irritated from the water then when I entered. If I entered to find some sort of relaxation or peace, really the only thing I’ve found is frustration. So why the heck did I surf?
Lately, to prevent this situation, whenever I can I try find places with less crowd, and avoid Carcavelos on sunny Sunday afternoons. Instead I try to surf at dawn. But I know that because of the stress of the work, traffic etc., we cannot always find the answers we look for in the sea, and happen to only concentrate on that surfer who catches all the waves, especially the one we were waiting for during 15 minutes. And when it comes, we’re either on the wrong spot or the manoeuvres just don’t go well.
For a long time I didn’t realize that surfing, much like other day to day things, contributed to my stress because I always had a philosophical vision that surfing was the ultimate escape. Don’t get me wrong, I’ve had surf sessions that I’ll never forget, that seemed like the most important thing at that time.
But today, I know that if I let it, surfing can contribute to a negative attitude, because the truth is that when we walk around frustrated, we only search for an excuse that justifies our frustration. For example, “Portuguese people do not know how to drive, they are not civilized, and people just don’t know how to act inside of water”. Many times I blame this surfer or that one, when the truth is I already had entered the water irritated. Sometimes it is a third parties fault, but in my opinion I’m the one at a loss if I let it affect me to the point of becoming a bitter and resentful person.
Peace is something that I discovered that surfing cannot always bring…But I believe with all of my heart that there exists a superior being that knows me better than anybody else and is interested in protecting, strengthening, and bringing me peace ....

“The Lord gives strength to his people, the Lord blesses His people with peace.” Psalm 29:11

Miguel do Bairro